Os perigos da noite
- Roger Walter
- 27 de jun. de 2018
- 4 min de leitura
Estamos vivendo naquela era em que frases típicas de mãe fazem o total sentido. "Não fale com estranhos", "não ande sozinho de noite" e "não tome da bebida de quem não conhece", ao mesmo tempo estamos na fase onde a militância e a quebra de preconceitos e paradigmas estão virando 'moda', de um jeito necessário.
Assédio
Os perigos que a noite apresenta são claros para qualquer pessoa e o medo de ser assediado, assaltado ou estuprado assombram a mente de qualquer um, principalmente das mulheres. Segundo o Data Folha, em 2017, 56% de mulheres entre 16 e 24 anos já sofreram algum tipo de assédio e a maioria desses casos aconteceram nas ruas.
Seguindo os dados do mesmo ano, Santa Catarina ficou em quinto lugar entre os estados que mais acontecem abusos sexuais, esses números foram estudados pelo 11º Anuário de Seguraça Pública. Esses casos estão cada vez mais próximos da realidade de cada pessoa e a maioria são sofridos pelo sexo feminino. São muitos os relatos, todo dia podemos ler em algum post na Internet. Os números são alarmantes e as providências com políticas públicas são de extrema necessidade.
Com a internet e as redes sociais, as mulheres se sentiram no direito e no dever de relatar os casos, cada vez mais relatos e denúncias são expostas, isso é de extrema importância, as pessoas agora tem voz e poder para debater sobre o assunto.
O assédio não precisa ser necessariamente com contato, um olhar, uma expressão ou até uma palavra que a mulher se sinta coagida e intimidada é assédio, é crime e tem que ser denunciado.

Com o poder da internet grandes nomes do YouTube debatem e levantam a bandeira do feminismo, e assédio é um dos principais temas debatidos, como a Youtuber Jout Jout, Prazer. Julia Tolezano, uma jovem de 27 anos que com sua comunicação de forma diferente mas também muito clara, consegue explicar os mais profundos temas de uma forma leve. Jout Jout, como é conhecida nas redes sociais, tem em seu canal quase 2 milhões de inscritos e fala abertamente sobre os problemas em que a sociedade vive.

Violência e assalto
O Brasil é o décimo país mais violento do mundo, isso por causa das suas cidades com grandes índices de violência. A Bahia ocupa p 1º lugar com um alto nível de violência. No sul do país, as cidades Jaraguá do Sul e Brusque figuram como as mais seguras e pacíficas para se morar. Isso é diferente na capital de Santa Catarina, em Florianópolis a violência nas ruas é constante. A violência é tão grande que a polícia civil chama a ilha da magia de mini Rio de Janeiro. As tentativas de assaltos são frequentes, os arrastões em lugares públicos e a insegurança de andar a noite com o medo de ser assaltado é constante e fixo na mente de seus moradores.
Quem mora nas capitais sabe dos problemas que pode enfrentar. Diferente dos cidadãos das cidades de interior, onde a criminalidade é contida pelo serviço de segurança. Às vezes quem migra dessas cidades para as metrópoles, não tem ciência dos perigos que pode enfrentar. Foi o caso de Robson André Bruno, 23 anos, estudante de Letras na UFSC. Robson mudou-se para a capital de Santa Catarina com o intuito de estudar, mas os empecilhos do caminho levaram ele a desenvolver síndrome de pânico, doença causada por traumas. Era a primeira semana do estudante como morador da cidade.
Estava me adaptando com Floripa quando tudo aconteceu, meus amigos sempre me alertaram a não andar sozinho em ruas escuras, mas depois da minha última aula da semana teria um happy hour num barzinho perto de casa. A rua que leva até o lugar era escura, porém não dá mais do que 10 minutos caminhando. Nunca pensei que fosse acontecer comigo.
Ele carregava no bolso uma carteira de cigarros, 20 reais para consumação e seu celular, quando foi abordado por 5 homens que apareceram correndo. Estava acompanhado de um amigo que conseguiu fugir. Faltava no máximo 2 minutos para chegar no destino, as pessoas do happy hour conseguiam ver ele sendo assaltado, contudo, o medo gritava mais alto.

Eu fiquei em pânico! Voltei para casa chorando, não conseguia para de tremer. Eu entreguei tudo que tinha e tentei correr, foi quando eles me jogaram no chão e começaram a agressão. O único reflexo que tive foi proteger meu rosto e mesmo assim fui atingido, fiquei com uma sequela na sobrancelha. Meus pais queriam que eu voltasse para casa.
A segunda vez que uma tentativa de assalto aconteceu Robson conseguiu escapar. Ele conta que a pior decisão que alguém pode tomar é ter uma reação agressiva. Essas pessoas de má índole sempre andam armadas e para realizar seus sonhos você precisa estar ciente dos perigos e dificuldades que vai encontrar. Hoje em dia o estudante diz ter aprendido a lição, continua sem celular e não anda mais sozinho nas ruas perigosas de Florianópolis, ou melhor, do mini Rio de Janeiro.
Para não entrar nos números de violência ou assédio, nunca ande sozinho. E se acontecer, eu espero que não, você não tem culpa.
A vítima nunca tem culpa.
Reportagem: Jean Domiciano
Entrevistados: Bianca Andrade - áudio
Robson André Bruno
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