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- Roger Walter
- 26 de jun. de 2018
- 5 min de leitura

O corpo humano é dotado de cinco sentidos, sendo eles: visão, tato, olfato, paladar e audição. São estas capacidades que permitem a interação do indivíduo com o mundo e a deficiência em qualquer um destes sentidos fazem com que o ser humano tenha grandes dificuldades na hora de se adaptar.
Desde que nasce, a criança que enxerga estabelece uma comunicação visual com o mundo exterior. Desde os primeiros meses de vida é por meio dos olhos que ela é estimulada. A visão lidera a hierarquia dos sentidos e ocupa uma posição relevante no que se refere a percepção e integração de formas que estruturam a composição de um ambiente. É o elo de ligação com os outros sentidos, que permite associar sons e imagens, imitar um comportamento e exercer atividades exploratórias.
Na educação a necessidade de estimulo é ainda maior, a alfabetização vai além das palavras, já que o ensino é auxiliado e reforçado através de números, formas, gráficos, figuras e imagens. Crianças deficientes visuais precisam do mesmo estimulo para aprender como qualquer outra, é essencial a geração de interesse no aprendizado e a integração na sala de aula.
DADOS
Segundo censo do IBGE realizado em 2010, 65% das crianças cegas de 0 a 4 anos não frequentam centros educacionais infantis. Já no ensino básico e fundamental os índices de alunos deficientes visuais que não estão nas escolas diminuem para 12%, porém no ensino médio o número volta a subir e atinge 23%.
Quando se trata de baixa visão os índices são mais otimistas, embora o número de crianças de 0 a 4 anos ainda sejam altos, com 57%, os números da educação básica caem para 6% e do ensino fundamental caem para 0,4%. A frequência só volta a diminuir na faixa etária entre 15 e 17 anos, indicando que 16% dos jovens com baixa visão não estão presentes na sala de aula.

CEGUEIRA
A cegueira é uma alteração total das funções elementares da visão, que afeta a capacidade de enxergar. Pode ocorrer desde o nascimento (cegueira congênita), ou posteriormente (cegueira adquirida) em decorrência de causas orgânicas ou acidentais.

BAIXA VISÃO
A definição de baixa visão é complexa devido à variedade e à intensidade de comprometimentos das funções visuais. As dificuldades englobam desde a percepção de luz até a redução da acuidade e do campo visual que interferem na execução de tarefas.
Yuri Gomes com apenas um ano de vida já tinha sido diagnosticado com catarata congênita. Graças a um retrato feito por sua tia, que notou que sua pupila tinha uma coloração esbranquiçada. Atualmente Yuri tem apenas 20% da visão em seu olho direito e se submeteu a oito cirurgias. Seis das intervenções foram para a paralisação da patologia e as outras duas possibilitaram o transplante do cristalino - correção do defeito refractivo deixado pela catarata.
Formado em design, Yuri conta que não se sentiu lesado pela baixa visão na universidade, que os problemas estavam presentes apenas na época escolar. “Na faculdade não passei por nenhum tipo de dificuldade, mas quando era criança passei por algumas situações incomodas. Sempre tive que sentar em lugares próximos ao quadro, a prática de atividades físicas na escola se tornava complicada e resultavam sempre nos meus óculos quebrados. Havia também alguns colegas que riam das minhas lentes por serem mais grossas”, finaliza.

DALTONISMO
Embora não seja uma condição grave, o daltonismo exige do portador algumas adaptações cotidianas, já que a patologia gera uma cegueira parcial de cores.
João Antônio descobriu que portava daltonismo aos sete anos de idade, após sua mãe notar em uma de suas atividades escolares que ele havia colorido a fumaça de uma chaminé com a cor verde-água, acreditando que era cinza. ”Eu confundo cores, não consigo muitas vezes diferenciar algumas delas e tenho dificuldade em nomeá-las. Por exemplo, quando eu penso em tons como carmesim, salmão, creme, bege, nenhuma cor específica aparece em minha cabeça”, afirma.
João conta que desde de criança possuía dificuldade em diferenciar os lápis de cor, e passou a colocar etiquetas com os nomes para facilitar. “Não lembro da escola e nem dos professores tratarem deste assunto em sala de aula, mas acho que isso aconteceu porque isso nunca afetou de fato o meu desempenho como aluno. Existem situações em que o meu daltonismo atrapalha, principalmente quando me deparo com gráficos que possuem legenda por cores" finaliza.
Para entender um pouco mais como o daltonismo afeta a percepção de cores, a reportagem utilizou o simulador do site Color Blindness. A imagem original que será utilizada para a demonstração estará disponível logo abaixo:

A Dicromacia é a disfunção mais comum, ela é gerada pela ausência de um dos três tipos de cones. Quando o portador não consegue perceber os tons de vermelho, chama-se protanopia. Assim veem as crianças com este tipo de daltonismo.

Se o portador de daltonismo não enxerga tons de verdes, chama-se deuteranomalia.

Já a tritanopia, é quando a deficiência afeta o cone responsável pelos tons de azul.


BULLYING
Lyonel prefere não revelar sua identidade completa, ele é portador de atrofia temporal da papila, condição que atrofia o nervo óptico. Obtendo cerca de 50% da visão e portador de fotofobia - sensibilidade à luz - ele conta as dificuldades enfrentadas tanto na escola, quanto no meio universitário. “Na escola foi muito difícil a alfabetização, principalmente na escrita cursiva. Diversos professores também não entediam que eu deveria ficar próximo ao quadro, o que dificultou ainda mais o processo’ destaca.
O Bullying sofrido pelo jovem na infância, deixa marcas até hoje. “Recebi diversos apelidos por parte dos meus colegas, sofria preconceito. Falavam que eu iria ficar cego e hoje estou contrariando eles”, relembra.
Na graduação os problemas continuaram e mesmo com o avanço das tecnologias, Lyonel continua tendo alguns obstáculos no aprendizado. "Hoje na faculdade costumo gravar as aulas e usar lupa no computador, também utilizo programas de narração. Os professores quase sempre atrasam na entrega de material ampliado, já que o material indicado para a leitura no meu caso seriam com a fonte 20. A questão de xerox apagados então nem se fala, é inelegível para mim”, finaliza.
SOLUÇÕES EM SALA DE AULA
Segundo a formação de Atendimento Educacional Especializado à Distância fornecida pelo Ministério da Educação - MEC, as soluções para os problemas na educação de deficientes visuais são simples. As recomendações dadas no material didático que discorre sobre deficiência visual pedem por medidas como: aproximar o aluno do quadro e estimular o uso de óculos em caso de prescrição médica, procurar iluminação adequada para os estudantes, se certificar de que a criança está enxergando as palavras e as ilustrações mostradas, observar a nitidez dos materiais dados em sala e adaptar o trabalho para as condições visuais do aluno.
Outras formas de auxiliar os alunos deficiente visuais são por meio de tecnologias, sendo elas recentes ou não, como acontece com o Braile. Conhecido como um sistema de leitura e escrita tátil, ele funciona através de pontos em relevos que permitem que as pessoas cegas ou com baixa visão identifiquem através do contato o que está escrito. Criado em 1825 pelo francês Louis Braile, o método é utilizado até hoje.
Atualmente há diversos softwares que proporcionam a tradução do alfabeto alfanumérico para a escrita em braile. Há diversos tradutores que permitem que as impressoras convencionais consigam utilizar esta linguagem, bastando apenas fazer os furos nos locais indicados pelo programa.
NOVAS TECNOLOGIAS
Com o uso de computadores e smartphones ficando cada vez mais acessíveis, diversos softwares e aplicativos que permitem a leitura de telas surgiram no mercado. Através da sintetização de voz e instruções, os programas permitem que os seus usuários folheiem, consultem índices, pesquisem e façam comentários, manuseando o texto sonoro de maneira semelhante ao texto escrito.
Por ser recente, este tipo de tecnologia ainda possui algumas limitações, Principalmente em computadores. A grande maioria dos softwares ainda são pagos e as assinaturas podem custar até R$ 8.450,00. Um outro problema enfrentado por estas tecnologias é que não há compatibilidade com alguns formatos de textos, como por exemplo arquivos em PDF.
Para pessoas com baixa visão já existem programas e aplicações que realizam a ampliação de tela em até 16 vezes. Permitem também diversas configurações de exibição que proporcionam maior conforto para o usuário na hora da leitura.
Texto: Thalia de Souza
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